Thursday, September 24, 2009

Brand experience: a arte de surpreender o cliente

Dirce Domingues*

Parece um tanto óbvio falarmos em começo, meio e fim de uma ação promocional. Mas, para muitos, infelizmente, não é bem assim. Principalmente no mercado de eventos, criar uma ação inovadora, baseada em conceitos bastante atuais como o brand experience, é ainda novidade e seus processos desconhecidos pela maioria.

Gerar valor ao consumidor por meio de uma experiência em um ambiente controlado parece ser totalmente seguro. Porém, ao contrário do que se pensa, não basta colocar à disposição uma situação de interação com o produto. É preciso mais. É preciso um acompanhamento do início ao fim do processo interativo. Em alguns casos, para que o consumidor não se sinta abandonado pela marca, o planejamento precisa, inclusive, prever a continuidade deste relacionamento.

A palavra-chave para todo o processo de experiência é “sentir”, ou seja, gerar sentimento, nem sempre controláveis, nos consumidores. Este deve ser o principal objetivo de uma ação com foco em brand experience.

Aliás, a experiência é uma ação cujo resultado é de difícil mensuração. Como garantir que a intenção será bem interpretada pelo consumidor? Essa é a pergunta que nos cabe fazer a cada etapa de criação de uma ação de brand experience. E as etapas são: atração; experiência em si; conclusão; e, quem sabe, extensão.

Tendo claro cada uma das etapas fica mais fácil desenhar um modelo adequado de experiência. O principal ponto, no entanto, está em conhecer o público-alvo em profundidade e estar certo que o produto tem algo, de fato, a agregar e oferecer.

Um exemplo de experimentação em feiras e eventos é a ação que desenvolvemos para Electrolux. Inicialmente criada para a 25ª Edição do São Internacional do Automóvel em São Paulo, o sucesso foi tão grande que a ação será permanente em todas as ativações para promover as lavadoras de alta pressão e aspiradores da marca no ano de 2009. Para se ter uma ideia, no Salão do Automóvel, conseguimos impactar diretamente mais de dez mil pessoas.

A ideia inicial era criar um ambiente propício à experimentação. O estande foi projetado para abrigar ações com as duas categorias de produtos, além do atendimento a convidados e possíveis novos clientes. Os promotores realizaram uma blitz junto aos visitantes da feira para convidá-los a participar da experimentação.

No primeiro momento, os visitantes eram convidados a “sujar” o carro com armas de “paintball“. Muitos nunca haviam participado de uma brincadeira semelhante, o que cria uma sensação de liberdade e realização simultânea. É esta sensação que envolve o público e que pode fazer com que pequenas experiências gerem grandes resultados.

Depois de sujar os carros, os consumidores podiam utilizar as lavadoras de alta pressão para limpeza. Posteriormente, o cliente seguia para o display equipado com bancos e carpetes. Nesta fase, ele podia sujar a vontade os bancos para testar a potência dos aspiradores de pó expostos no estande. O próximo passo era a participação do sorteio de um brinde, que inclua as lavadoras de alta pressão e aspiradores, para levar na mesma hora.

Em uma ação com esta, em um grande evento no qual a maioria dos participantes apenas expõe os produtos, criar situações de participação, certamente, contribui para a criação de valor para marca. O ponto de partida é que, além de agir de forma criativa e inovadora, é preciso agregar conhecimento, sentimento, inteligência. E nada melhor para isso do que uma brincadeira inteligente.

Com um consumidor cada vez mais participativo, criar oportunidades de interação tornou-se uma tendência irreversível. Hoje, não basta apenas expor produtos ou serviços. É preciso envolver o consumidor e convidá-lo a participar. A experiência não precisa ser grandiosa. Porém, precisa ser sempre inusitada, surpreendente.

Monday, September 21, 2009

Entrevista com Gustavo Sarkis

Cachorro-Peixe para o SpaceFox, Gritos para o Twix, La Fortuna para a nova Saveiro e a campanha de novos planos para a Claro são alguns trabalhos realizados por Gustavo Sarkis, redator da AlmapBBDO e quarto entrevistado do blog. Bom, pela qualidade das campanhas torna-se fácil imaginar a qualidade da entrevista. Uma ótima aula em 8 perguntas.

Boa leitura e bom aprendizado.


1. Fale um pouco da sua trajetória em publicidade e seu início na AlmapBBDO.
Eu comecei na Propeg em Salvador. Primeiro fiz aquele estágio rotativo, passando por todas as áreas, atendimento, mídia, produção, e, quando passei pela criação, tive a sorte de o diretor de criação ter notado que eu ficava fazendo títulos até às oito da noite. Nessa época e local, isso significava ficar até tarde. Com isso eu ganhei um estágio fixo na criação. Quatro anos depois, eu achava que já tinha uma pasta que não faria feio na mesa de um diretor de criação em São Paulo. Botei a pasta embaixo do braço e vim bater na porta da DM9, W/Brasil, todas as agências que faziam aqueles anúncios que eu olhava no anuário e sonhava em um dia fazer igual. E foi assim que eu troquei minha vaga de redator sênior na Propeg por três meses de estágio na Talent sem garantia de renovação. Fiquei lá por quatro anos, onde tive a chance de trabalhar com o Mauro Perez, Marcelo Aragão, Alexandre Peralta, Ana Carmem e Júlio Ribeiro. Até que um dia o telefone tocou e uma secretária disse um minuto que Marcello Serpa vai falar. Trabalhar numa agência como a Almap para mim era o máximo. Era tanta gente boa fazendo trabalhos incríveis que eu sentia que precisava dar tudo de mim para acompanhar o ritmo. Hoje, com sete anos de Almap, a sensação continua a mesma.

2. O que realmente importa na hora de avaliar a pasta de um candidato a estágio?
Um candidato a estágio tem que mostrar que é bom com os poucos recursos que têm. Não dá para impressionar com idéias mirabolantes que vão ficar no meio do caminho, porque não existe verba de produção. Pensem em idéias simples e criativas, não só em mídia impressa, mas também em ações de guerrilha, internet, outdoor, mídia integrada. Quando você é estagiário, vai receber jobs com pouca ou nenhuma verba. Quem for capaz de resolver isso com eficiência já vai sair na frente.

3. Volkswagen, Havaianas e Gatorade são referências em boa propaganda. E você atende todas elas. Além de muito trabalho, como criar com freqüência diversas campanhas sem perder a qualidade?
Em primeiro lugar vem o que você citou : muito trabalho. Dulcídio Caldeira, diretor de criação aqui da Almap, tem uma frase muito boa sobre isso. Ele diz que as boas idéias vem da herpes. Um job só fica bom quando você trabalhou a ponto de baixar a resistência, pegar uma gripe, estourar uma herpes. Depois, vem outra coisa também muito importante. Clientes como Volkswagen, Havaianas e Gatorade querem colocar boas campanhas no ar. Eles vibram com uma boa idéia, apóiam, lutam junto com a gente para que a campanha aconteça. Isso faz uma grande diferença. É muito mais difícil quando só a agência tem coragem de apostar num trabalho criativo.

4. Você participa de reuniões de briefing? Como o redator pode ajudar o cliente a entender melhor o próprio pedido e fornecer informações relevantes?
Ajudando o cliente a simplificar o máximo possível. Para mim, o brief bem feito é aquele que pode ser resumido em uma frase.

5. Existem atenções especiais ao escrever para a internet? A linguagem deste meio é muito diferente dos meios tradicionais?
Você precisa estar atento aos recursos que a internet oferece. A cada momento surgem novas tecnologias que permitem interagir com o consumidor das mais variadas formas. Eu não sou um especialista no assunto, mas quando crio para essa área sempre procuro contar com a ajuda de um redator ou diretor de arte da equipe on line aqui da agência. Mas, antes de tudo, para mim o que vale é a boa idéia. Uma grande idéia vai poder funcionar muito bem em qualquer plataforma, seja em internet, mídia impressa, TV ou outdoor.

6. Depois de vários conceitos criados e títulos redigidos, como selecionar a melhor ideia para a campanha?
Você sabe que tem uma boa idéia na mão depois que já passou por muitas. Li um texto no site da Crispin Porter Bogusky onde eles dizem que não acreditam em epifanias. Eu penso do mesmo jeito. Para saber que a primeira idéia é a boa, você precisa ter a centésima. Fazer muito também ajuda a melhorar o seu critério. Quando você tem uma pilha de idéias, as melhores vão pular na sua frente. Ainda assim, quando estou em dúvida, tudo fica mais claro depois que eu conto as minhas idéias para alguém. Não só pela opinião de quem ouve, mas também por sentir como a idéia soa fora da minha cabeça. Tem idéias que ganham ou perdem força quando são contadas.

7. Uma curiosidade. Quantas vezes você reescreve um texto antes dele virar anúncio?
Quantas vezes for preciso até ele ficar bom. Às vezes sai de primeira, quase redondo, faltando só um tapinha aqui e ali. Às vezes sai completamente torto e vou reescrevendo. Em geral procuro fazer um texto curto e rápido, porém simpático.

8. Se você estivesse começando na profissão hoje, o que perguntaria para o Gustavo Sarkis, redator da AlmapBBDO, e qual seria sua resposta?
Prefiro ir direto ao ponto e dar um conselho para quem está começando : nosso meio está abarrotado de profissionais que vivem de imagem. Releasings, notinhas, factóides, burburinhos, fotos. Tem muita gente se envolvendo tanto com isso que não sobra tempo para fazer um trabalho bem feito. Marcello Serpa outro dia comentou que as pessoas estão confundindo fama com prestígio. Fama é a consequência de mera exposição na mídia. Prestígio, é a consequência de um trabalho bem feito. Se você puder escolher com quem vai estagiar, prefira alguém que tenha o último.

Para ver mais trabalhos do entrevistado clique aqui e aqui.

*via Puta Sacada

Monday, September 14, 2009

A hierarquia do sucesso

Eu a vejo a hierarquia do sucesso da seguinte maneira:

1. Atitude
2. Abordagem
3. Objetivos
4. Estratégias
5. Táticas
6. Execução

Nós gastamos todo nosso tempo na execução. Usar essa cor ao invés dessa outra. Escolher esse provedor. Aquela cor. Esse material ou essa freqüência de envio.

Grande notícia: Ninguém jamais obteve sucesso em razão das táticas de execução aprendidas em algum livro com técnicas para principiantes.

As táticas te dizem o que executar. Elas são importantes, mas dirigidas por uma estratégia. A estratégia é que determina quais táticas podem funcionar.

No entanto, qual a razão de uma estratégia se os objetivos não estão claros ou são contraditórios?

Isso nos leva aos dois primeiros pontos, sobre os quais quase nunca ouvimos a respeito.

A abordagem determina como encaramos o projeto (ou nossa carreira). Você lê muitos livros? Faz muitas perguntas? Usa a ciência e testes ou prefere o instinto? É controlador? É prático? Qual foi a última vez que você admitiu um erro e fez uma correção dramática no percurso? Todo mundo tem um estilo, e, se você escolhe o errado, toda a estratégia, tática e execução do mundo não funcionará bem para você.

Que eu saiba, a parte mais importante de todas, que fica no topo da hierarquia, é a atitude. Por que você está fazendo tudo isso? Quais são as suas crenças para lidar com pessoas e problemas?

Algumas outras perguntas:
• Como você lida com o fracasso?
• Quando você desistirá?
• Como você trata seus concorrentes?
• Qual a personalidade que você busca nas pessoas que contrata?
• Como isso vai funcionar para você? Por que? É uma escolha intencional?
• Que tipo de decisão você toma quando ninguém está olhando?

Claro, você pode começar pela parte de baixo, focando a execução. Lendo um típico blog (ou indo a uma escola típica para pessoas de 16 anos de idade), parece ser isso o que você deve fazer. Que desperdício.

Não é estranho que essas seis perguntas são tão importantes e ainda quase ninguém fala ou escreve sobre elas?

Se o topo da hierarquia está bagunçado, nem a mais brilhante tática ou execução pode te ajudar.

*
Seth Godin é um dos mais populares “gurus” do marketing na atualidade, autor de diversos livros e de um dos melhores blogs sobre o assunto.

Chá com tubarão



Boa ideia de um designer argentino. Quero um. hehe

Sunday, September 13, 2009

Black Eyed Peas surpreende Oprah em Chicago

Em uma ação promocional espetacular o grupo Black Eyed Peas surpreendeu a apresentadora Oprah Winfrey. Tudo estava combinado para realização de um show da banda em Chicago, para executar o Hit ”I gotta feeling”, na abertura da nova temporada do programa da apresentadora. A surpresa ficou por conta da atitude da platéia, que realizou a maior ação de flash mob, que se tem notícia. Sem que Oprah soubesse, will.i.am criou com um grupo de dançarinos uma coreografia e chamou 800 fãs para o espetáculo de TV. As 800 pessoas aprenderam os passos e ensinaram para mais de 20.000. Oprah não acreditou no que viu e o viral promocional deverá causar muitos comentários ao redor do planeta. Por trás da mega ação estava a T-Mobile. Assista o vídeo.


Wednesday, September 09, 2009

Sua agência está resolvendo os problemas certos?


Certa vez, o dono de um restaurante procurou a agência em que eu trabalhava para alavancar suas vendas. Segundo ele, alguns bares e danceterias voltados ao público jovem que abriram nas redondezas estavam espantando sua clientela que, como afirmou, era basicamente casais das classes A e B com idade acima de 35 anos. Com isso, ele alegava que a região não era mais atrativa aos adultos. Sua solicitação era de uma campanha para reposicionar sua marca. O profissional responsável pelo marketing do restaurante havia sugerido que ele transformasse o estabelecimento em um local para o público mais novo, para competir com os outros bares.

Logo de cara, apontamos que tal mudança exigiria mais do que uma simples campanha. Ele certamente teria que alterar o cardápio – e isso incluiria abrir mão do seu chef renomado -, mudar sua política de preços, reformular o ponto de venda, fazer mudanças na marca e, obviamente, rever todo seu sistema de custos. Com a queda do ticket médio que tais jovens proporcionariam, dificilmente ele conseguiria manter sua empresa lucrativa. Ou seja, seguir o brief do cliente poderia agravar ainda mais o problema. No entanto, pedimos um tempo para estudar melhor a situação.

Sem verba para pesquisa, o planejamento se encarregou de resolver a situação. Avaliamos o histórico da marca, fomos conhecer o estabelecimento e a concorrência, conversamos com clientes e ex-clientes e até com o público de vinte e poucos anos que freqüentava a região. O diagnóstico foi surpreendente. A maioria daqueles ex-clientes haviam deixado de ir ao restaurante pois não tinham mais onde estacionar. Com a chegada desses novos estabelecimentos, as ruas próximas ficaram cheias de carros. Um jovem não liga de estacionar várias quadras adiante, mas o público adulto queria parar o mais perto possível. Se não tivesse vaga, eles iam direto para algum concorrente. E, com o tempo, o restaurante foi saindo da lista de opções desse pessoal. No entanto, a marca era muito bem avaliada pelos adultos. Pelos jovens, entretanto, ela era vista como algo caro e com a “cara” dos seus pais, o que indicava que o tal reposicionamento tinha tudo para fracassar.

Em uma ação exemplar, a agência disse ao cliente que não havia nada que a comunicação pudesse fazer até que o problema real fosse resolvido. Sugerimos, então, que ele adquirisse um terreno que havia em frente ao local para construir um estacionamento. No início ele relutou, mas conseguimos convencê-lo. Em poucos meses, em uma obra rápida (subiu um muro, cimentou o chão e montou uma guarita), o estacionamento estava pronto.

Agora tínhamos um objetivo claro para a comunicação: fazer com que o público soubesse da novidade para colocar o restaurante novamente na sua lista de opções. Sugerimos algumas mudanças na decoração, uma pequena e rápida “reforma”, uma festa de reinauguração com alguns formadores de opinião e ex-clientes, um trabalho de assessoria de imprensa e anúncios em alguns jornais (bem criativos, por sinal). Em pouco tempo, as filas haviam voltado à porta do estabelecimento.

Pode até parecer um problema de cliente pequeno, sem um marketing bem estruturado, mas, trabalhando com grandes marcas, deparamos com problemas até piores. Aliás, quanto mais global a atuação, mais chances de existirem.

Essa reflexão nos leva a duas conclusões fundamentais: a de que uma das principais tarefas do planejamento é entender claramente qual o problema ser resolvido; e a de que nem sempre a comunicação é a melhor maneira de se resolver esse problema.

No livro Como Planejar a Propaganda, o Leslie Butterfield – hoje Diretor Estratégico da Intebrand -, faz um comparação bem interessante do planejamento com o trabalho de um médico. Segundo ele, o médico entra na vida do paciente, escuta o relato dos sintomas, analisa seu histórico e contexto, pensa a respeito dos pontos aparentemente sem importância – como perda de peso, ou mudança de alimentação - e distingue entre o que é real e o que é uma avaliação subjetiva do paciente. Depois, começa com perguntas para detectar a presença de outros sintomas que poderiam esclarecer o quadro clínico, faz ligações com outras doenças historicamente relatadas, descarta o que não tem importância e, se necessário, solicita exames. Com isso, ele consegue definir o problema a ser resolvido e pode oferecer uma solução eficaz – que pode ir de uma simples medicação, até intervenções cirúrgicas. Com o planejamento, é a mesma coisa. É crucial encontrar o verdadeiro problema. Mesmo se for um processo já iniciado, é fundamental questionar o que tem sido feito.

Quando não há um problema evidente, é preciso um exercício para detectar e antever pontos que poderiam atrapalhar a marca a atingir seu objetivo de mercado. Além disso, há casos em que tudo aparentemente vai bem (não há sintomas), mas na verdade, existe um grande problema latente. Isso me faz lembrar de uma empresa que, no auge do crescimento de mercado (aqui qualquer um cresce), estava prosperando, porém em índices inferiores ao do mercado. Quando a crise chegou, ela se deu muito mal. Ou então de outra que, a cada campanha adotava um discurso tão inconsistente – mas “vendedor”, como dizia o gerente de marketing - que só foi dar falta de uma marca forte quando já era tarde demais.

Nessa busca, duas perguntinhas básicas podem ajudar bastante:

• O que está atrapalhando o desempenho atual da marca?

• O que poderia impedir a marca de atingir o seu objetivo de mercado?

Se a comunicação não for a solução ideal, não é obrigação da agência fornecer soluções que vão além do seu alcance – apesar disso ser um tremendo diferencial que vem consagrando agências como a Zeus Jones e a Naked, que vendem ideias e não execuções.

Os níveis de problema que a comunicação pode resolver são os mais diversos. O público pode, por exemplo, não estar entendendo a comunicação atual, novos hábitos podem estar tornando o uso atual do produto inadequado, o público que a marca quer atingir pode não estar mais usando o produto, a verba pode ser pequena para utilizar mídias de massa, pode acontecer do preço Premium não ser justificável, as pessoas podem desconhecer o produto – e por aí vai.

A campanha que a Fiat fez há alguns anos para o Palio, que dizia "Está na hora de você rever os seus conceitos”, nasceu de um problema interessante. Havia um grupo de pessoas que rejeitava a marca, e a influência que exerciam sobre o público estava impedindo que a marca atingisse seus objetivos. Esse ódio (o grupo foi chamado de haters) era herança da imagem arranhada do extinto FIAT 147, o que não correspondia mais à realidade. A comunicação tinha, então, que mudar a concepção, não dos haters em relação à marca (o que seria muito difícil), mas dos outros públicos em relação à opinião desse pessoal.

No livro A Arte do Planejamento, O Jon Steel conta um caso interessante do qual participou, ainda na Goodby, Silverstein & Partners, para a marca de automóveis Isuzu. Quem decidia por comprar um carro, geralmente, reduzia sua lista de opções a 3 ou 4 marcas e se dirigia a essas concessionárias para analisar melhor cada opção. A Isuzu ficava fora dessa lista. A causa? Era vista como uma marca inferior. Esse era o problema. Com isso, o papel da comunicação foi, ao invés de diferenciar o produto, mostrar que ele era igual aos concorrentes, para que entrasse nessa lista. Mas para chegar aí, foram conduzidos diversos estudos bem interessantes que ele detalha da publicação.

Portanto, se aceitarmos o brief do cliente sem questioná-lo, corremos o risco de fazer como um chefe de polícia britânico, em um caso que o Jon Steel contou no seu discurso na comemoração dos 40 anos do planejamento. Esse oficial defendia a redução do número de policiais nas ruas, com base na informação de quem onde havia mais guardas na rua havia menos prisões. Baseado nas estatísticas, dizia o chefe, com menos polícia nas ruas, mais gente seria presa. Ela avaliava isso como positivo, pois o que o governo havia pedido a ele era um aumento no número de prisões. Será que ele estava resolvendo o problema certo? O que seria melhor: mais prisões ou menos crimes?

Se for pra ter medo de algo, tenha da mediocridade


Alex Bogusky*

Um velho amigo meu passou pelo escritório um dia desses para me perguntar sobre o nosso processo de novos negócios. Ele tem uma agência menor e está buscando estratégias para fazê-la crescer. Quando o conheci, ele estava nos ajudando com parte do trabalho de lançamento da campanha Florida Truth. Na época, a CP+B tinha cerca de 60 pessoas e, portanto, ele nos viu passar por muitas mudanças, e acho que nós dois ficamos surpresos com muito do que a conversa revelou terem sido os direcionadores do nosso crescimento. Eu quis anotá-los enquanto estavam frescos na minha cabeça.

1 – Conte seus sonhos para outras pessoas.

Isso foi muito importante pra nós. Por muitos anos o Chuck e eu tivemos esse segredo de querer ser uma grande agência um dia. Sabe-se lá o que isso queria dizer. Mas foi uma daquelas aspirações que você não ousa dizer em alto e bom som para ninguém pois soaria ridículo. As pessoas ririam, apontariam e diriam, “Lá vão aqueles caras que queriam ser grandes! Eles fracassaram!” No entanto, para ter sucesso você deve enfrentar o risco de fracassar.

Então, decidimos contar pra toda a agência o que queríamos nos tornar. Era a nossa missão. Conhecíamos uma pessoa que estava na Fallon no início e tinha participado da criação da deles que, não sei se me lembro exatamente, mas dizia de forma muito simples e básica que queriam ser “a agência mais premiada dos Estados Unidos”. Nós pensamos sobre o que gostávamos no negócio da publicidade e não eram os prêmios, era a questão da cultura. Assim, nossa missão se tornou: “Criar a publicidade mais comentada do mundo.” Na época, provavelmente não tínhamos ainda alcançado nosso objetivo em Miami ou na Flórida. Então, era um pouco constrangedor. Meu amigo ficou realmente chocado quando soube da nossa missão. Tenho certeza de que ele teria rido se ficasse sabendo na época. Porém, na agência nós compartilhamos essa missão com todo mundo e confeccionamos pequenos cartões para anexar ao monitor ou à mesa, para que, durante o dia, nós pudéssemos tomar todas as centenas de decisões que precisávamos com nossa missão em mente.

Em questão de semanas, algo novo estava começando, e a agência passou a, claramente, tomar a direção do nosso objetivo compartilhado. Das milhares de pequenas decisões que deram forma ao nosso futuro, dava pra sentir que mais da metade estava nos levando ao lugar que queríamos. Teria sido ainda melhor se tivéssemos tido coragem de fazer isso antes.

2 - Os clientes que você tem são a sua verdadeira máquina de gerar novos negócios.

Eu vejo tanta gente negligenciar isso. “Se eu tivesse um cliente assim ou um cliente daquele jeito.” É essencial ter uma clara ideia na sua cabeça do novo patamar que pretende atingir e do novo caso que você espera provar com cada novo cliente, antes de começar o trabalho. O que vai ser diferente em relação a agência seis meses depois da chegada dessa nova conta? Como essa nova receita e essa nova campanha vão tornar a sua agência mais inteligente e mais capaz do que era antes?

3 - Encontre alguma paixão real em construir o seu negócio ou vá fazer outra coisa.

Nós temos uma regra que diz que não podemos disputar um novo negócio até que todos os nossos parceiros sintam paixão por ele. E dinheiro não é uma razão aceitável para paixão. Pode ser qualquer coisa, menos dinheiro. Talvez você goste por ser uma empresa familiar. Talvez seja amor por ser uma empresa desafiante. Talvez você ame por ser a chance de construir algo a partir do zero. Seja qual for o motivo, encontre-o. Se você não encontrar, diga não, obrigado. No fim, você será definido pelos seus clientes. Não há outra forma de fazer isso. Por isso existem tantos parasitas no mundo dos negócios: as agências.

4 – Não modele o seu negócio com base no que outros fazem.

Pare de roubar as coisas que outras agências fazem. Na verdade. Roube-as, leia tudo e visite todo mundo para descobrir o máximo que puder. Depois, quando souber o suficiente, esqueça tudo e invente seu próprio processo e suas próprias ideias. É como um músico de jazz encontrando sua voz única. No começo, exige muito estudo, prática e emulação. Mas no fim, ninguém deve nem pode soar igual. Quando você encontrar sua voz, a sua afinação e seus processos serão melhores do que qualquer outro, pois você pode falar sobre eles honesta e genuinamente. A maneira de encontrar sua afinação pode levar um tempo, mas há um método real e garantido de começar. Passe de seis meses a um ano anotando toda vez que se sentir bem em relação a um trabalho ou sobre algo que esteja fazendo naquela hora. Eu garanto que um padrão vai surgir e, com sorte, não será sobre o almoço ou sobre golfe.

Bem, são quatro. Na verdade, existem alguns outros, mas eles podem esperar até uma nova ocasião para serem escritos.

*Alex Bogusky é sócio-fundador da Crispin Porter + Bogusky